O grupo de pesquisa COM+, da ECA/USP lança a obra “Caminhos da Comunicação: tendências e reflexões sobre o digital” pela editora Appris.
“Esperamos que o conteúdo aqui reunido possa ilustrar parte de um panorama que tem por eixo comum as diferentes expressões de comunicação e sociabilidade dos meios digitais. Queremos trazer uma visão mais ampla, sistêmica e transversal da pesquisa acadêmica do campo que atua, ao mesmo tempo, como uma ponte de reflexão diante dos fenômenos impermanentes da sociedade digitalizada e da práxis comunicacional contemporânea”, afirma Saad.
Organizada pela coordenadora do grupo, a Profa. Dra Elizabeth Saad Corrêa, a coletânea traduz as atuais discussões e atividades de pesquisa e extensão do COM+, criado em 2006. O conteúdo abrange as transformações ocorridas por conta da digitalização generalizada da sociedade e, em especial nas atividades de informação, comunicação e mídia. Seu tripé temático compreende textos que versam sobre “A pesquisa na sociedade digitalizada”, “A comunicação nas organizações na era dos dados” e “O cenário de um jornalismo em transformação”.
O prefácio é de autoria do Prof. Dr. Marcelo Coutinho, da FGV, que reforça que “não basta vivermos em tempos interessantes, é preciso explicá-los”. Com diferentes campos do conhecimento – como as Ciências Sociais, a Filosofia, as Ciências da Informação, a Arquitetura e Urbanismo, entre outros – passando a integrar o espectro epistemológico das atividades do pesquisador de comunicação, o livro reforça a importância de um olhar transversal para o campo, considerando o papel basilar do digital hoje, tão necessário quanto a vigilância epistemológica e o rigor com os métodos de pesquisa.
A coletânea “Caminhos da Comunicação: tendências e reflexões é divida em três partes: “A pesquisa na sociedade digitalizada”, “A comunicação nas organizações na era de dados” e “O cenário de um jornalismo em transformação”.
Na Introdução, Beth Saad destaca a contribuição de cada um dos papers selecionados:
“O texto ‘Experiências e desafios para a pesquisa em ambiências digitais’, apresenta suas próprias reflexões sobre as questões que surgem a cada novo projeto de pesquisa ou a cada nova orientação de mestres e doutores – quais as escolhas teóricas e metodológicas mais adequadas para cada especificidade: “Propomos ali a aceitação de hibridismos como um caminho epistemológico resiliente que pode abrigar a diversidade temática do pesquisar no digital. Também é proposto um olhar mais atento à vertente teórica dos Internet Studies como um lócus possível para a sustentação de pesquisas no digital.”
“…a pesquisadora Cinara Moura – em ‘Complexidade e Transversalidade: uma proposta para pensar a comunicação digital’ – avança sobre nossas discussões de fundamentação. O texto reflete sobre a comunicação como campo capaz de ler as trocas simbólicas que ocorrem diante de novas tecnicidades digitais, onde o entendimento de conceitos como os da complexidade e da transversalidade tornam-se fundamentais. Se, por um lado, assumimos a complexidade enquanto paradigma de pensamento, a transversalidade manifesta-se como um movimento capaz de nortear novas elaborações acerca da comunicação contemporânea, que busca auxílio em outros aportes teóricos, mas mantém o princípio da centralidade comunicacional.”
(…) “João Francisco Raposo oferece-nos o texto ‘Sobre hipercomunicação e hiperconexão: ‘sobrepeso’ digital, cansaço e visibilidade contemporânea’, partindo de uma reflexão sobre a chamada sociedade do cansaço (HAN, 2017) como um lugar de hiperconexão, hipercomunicação e hipervisibilidade fomentadas pelas mídias digitais. O autor traz uma reflexão crítica sobre nosso mundo digitalizado e de tamanha overdose informacional, fundamentando a teoria com termos e exemplos contemporâneos que ilustram nossa atual vida tecnológica.”
(…) A “pesquisadora Daniela Osvald Ramos – ‘A fragmentação da esfera pública e sua mediação pelo algoritmo: discurso de ódio, violência da positividade e novas literacias’ – também parte da hipótese de Han (2017), para quem a violência digital na era da hipercomunicação é uma violência resultante, entre outros fatores, do excesso de positividade, ou seja, da publicação ininterrupta de todo o tipo mensagens. Uma das suas expressões mais visíveis contemporaneamente é o discurso de ódio, que se utiliza dos formatos de comunicação digital, mediados, por sua vez, pelos algoritmos, para se realizar. Para isso a pesquisadora também recorre ao pensamento semiótico de Lotman (2013) para fundamentar uma tipologia da cultura sobre discurso de ódio e liberdade de expressão. E vai a campo com os resultados de um survey sobre violência na internet, feito em 2018, cujo resultado aponta para o discurso de ódio como a violência mais percebida naquele determinado período da amostra.”
(…) Na segunda parte, “João Francisco Raposo, ‘Comunicação, visibilidade e organizações: reflexões e apontamentos sobre a comunicação organizacional’, discute sobre a dinâmica da chamada era dos dados, que opera por intermédio da captura de atenções dos usuários e da quantificação de nossas ações em um ambiente de mídia caracterizado pela digitalização. Por meio de um estudo bibliográfico, o autor discute, ainda, sobre conectividade, visibilidade e engajamento para buscar compreender a lógica e o papel das organizações em tal panorama.”
(…) A “pesquisadora Carolina Frazon Terra nos apresenta o texto ‘Publishers de conteúdo no ambiente digital: as marcas no papel de influenciadoras digitais’, com uma reflexão sobre comunicação organizacional contemporânea, a caracterização do que é influência e quem são os influenciadores digitais e, por fim, o que faz com que uma marca se torne uma publisher ou uma agente influenciadora nas plataformas de mídias sociais. Para isso a autora recorre à condição digital de que o consumo contemporâneo adquire, à visibilidade no ambiente digital e à gestão de relacionamentos na contemporaneidade.”
“Avançando sobre os novos papéis das marcas na cena digital, a pesquisadora Daniele Rodrigues nos traz o texto ‘Narrativas de marcas no ambiente digital: um híbrido de formatos e linguagens dos mundos da publicidade e do editorial’, em que discute sobre elementos que constituem um novo modelo narrativo para a produção de conteúdo para marcas no ambiente digital, valendo-se da tríade TICs para a produção de histórias mais factíveis e participação de novos interlocutores em busca de amplificação com endosso. A autora parte do pressuposto de que a produção de conteúdo se torna híbrida entre as áreas da comunicação social, favorecida pelo protagonismo de interlocutores, como os influenciadores digitais, e pela riqueza de plataformas, formatos e linguagens.”
Na terceira parte, “a pesquisadora Mayanna Estevanim traz o texto ‘Sujeito dados no jornalismo: mediação e agente midiatizador’ com uma reflexão teórica sobre quem são os sujeitos atuantes humanos e não humanos na produção e consumo de informações. Para tanto, a autora adota o mapa das mediações de Jesús Martín-Barbero (1997) como moldura conceitual numa tentativa de compreender as relações constitutivas deste jornalismo e consequentemente dos sujeitos de tais processos.”
(….) ”A pesquisadora Stefanie Carlan da Silveira discute o tema no texto ‘O conceito de inovação dentro da pesquisa em jornalismo no Brasil’. A autora busca compreender de que forma a academia brasileira trata do conceito de inovação atrelado ao jornalismo. Após um mapeamento em 237 trabalhos acadêmicos, constatou-se que o conceito de inovação faz parte de algo em construção, ou ainda de um processo que inclui a interdisciplinaridade e a necessidade de avanço no olhar voltado para o campo do jornalismo.”
(…) “A pesquisadora Isadora Ortiz de Camargo discute como o The New York Times vem inovando seu conteúdo e negócio com o texto ‘Modelos de negócios jornalísticos em mobilidade: algumas lições do The New York Times’, no qual apresenta como as experiências de conteúdo informativo em dispositivos móveis poderiam fazer parte do ciclo de inovação de empresas de mídia. O texto faz uma recuperação temporal sobre o caso do periódico norte-americano e destaca as principais atitudes nas rotinas produtivas para alavancar o acesso por meio de dispositivos móveis e atrair novas audiências. Para isso, discute-se brevemente os conceitos de estratégia, mobilidade e inovação, comumente incorporados aos estudos de jornalismo digital.”
“Num segundo texto, a pesquisadora Lígia Trigo fala sobre as dificuldades do jornalismo em inovar na pauta de saúde diante de novos atores youtubers. Em ‘Saúde no YouTube: jornalismo versus profissionais de saúde’, a autora analisa os principais canais mantidos por profissionais de saúde no YouTube Brasil, sob a ótica do conceito de Nova Visibilidade, enfocando a ocupação de espaços midiáticos por esses profissionais e sua comunicação direta com o público, em contraponto ao pouco uso que veículos e profissionais de comunicação especializados em saúde fazem da plataforma.”
O livro, em formato digital e impresso, está disponível para compra no link: https://www.editoraappris.com.br/produto/4448-caminhos-da-comunicao-tendncias-e-reflexes-sobre-o-digital
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